quarta-feira, 4 de abril de 2012

Uma rede para se apoiar

Laura Gutman, em seu livro "A Maternidade e o Encontro com a Própria Sombra" defende a importância de uma rede de apoio para a mulher/mãe.

Eu diria que na minha experiência, ter essa rede de apoio foi fundamental.
Antigamente, as mulheres conviviam em tribos, dividiam tarefas, criavam os filhos juntas. Hoje, com a "modernidade", tudo passa a ser mais individualizado. Muitas vezes não sabemos nem o nome do nosso vizinho de porta. Entretanto, o instinto da tribo permanece dentro de nós. Muitas vezes, ele é oprimido e a mulher não deixa essa necessidade vir a tona. Infelizmente, crescemos com um discurso de que temos que ser independentes e auto-suficientes. Muitas querem ser praticamente a "super mulher" e querem dar conta de tudo sozinha. Mas o nosso instinto animal/mamífero não é assim.

Quando chegou a gestação eu me senti em um grande mergulho pra dentro de mim mesma. Incrível como fiquei mais infantilizada, como lembrava de acontecimentos e pessoas que passaram pela minha vida que eu nem acreditava que era capaz de lembrar. Por um lado, foi bom. Ao lembrar desses acontecimentos, hoje, mais "madura", fui capaz de analisar melhor e de fazer ligações desses fatos com a pessoa que eu sou hoje. O que me ajudou também a trilhar o tipo de mãe que eu quero ser e as mensagens que eu quero que minha filha receba de mim.

Depois, chegou a Ana Luísa. E quando ela chegou, passei uns dias inundada de ocitocina, em extase, sem acreditar em tudo que estava acontecendo. Depois que o efeito passou, eu entendi o que Laura Gutman queria dizer.
Ter um filho nos faz olhar cada vez mais pra dentro. Ter um filho é se entregar. É passar horas e horas com um bebê pendurado no peito. É atender cada choro. Se der tempo, a gente toma banho. Se der tempo, a gente dorme um pouquinho, se der tempo... É buscar as soluções para alguém que não sabe fazer nada além de chorar para expressar o que sente. E devido ao tempo de gestação, mãe e bebê passam um bom tempo em sinergia, ligados, ainda que estando em corpos separados. Se a mãe está aflita ou insegura, é fato que irá encontrar um bebê mais chorão dentro de sua casa.
E a rede de apoio nos traz segurança. Nos mostra que não estamos sozinhas. Outras mulheres contam que passaram por tudo que estamos passando e nos dão esperança para acreditarmos que estamos indo bem.
No meu caso, a rede que encontrei foi virtual mesmo. Listas de discussão cheias de gente do bem, de gente que sabe muito, de gente muito estudiosa, de gente muito acolhedora e principalmente, quase todas mães que já sentiram o que eu sinto.
Infelizmente, no meu círculo de amigos da vida real, poucas pessoas tem filhos. As que tem, estão distantes. E também pensam de uma forma um pouco diferente da minha. Eu tinha medo de dizer que estava com uma bebê há 2 horas mamando e ter que ouvir como resposta "dá uma mamadeira pra ela, assim ela dorme". Eu tinha medo de dizer que a minha filha só dormia sendo embalada no colinho e ter que ouvir: "deixe ela chorando no berço, em 3 dias resolve".
Acho que não era exatamente medo de ouvir essas coisas, mas eu sabia que a ajuda que elas tinham pra me dar não era a ajuda que eu queria receber.
E é nessas listas que eu busco ajuda. Porque quando minha filha está há 8 dias sem fazer cocô, eu não quero que alguém me diga que tenho que dar chá de ameixa pra ela. Quero entender como solucionar uma possível volta ao trabalho e mantê-la no aleitamento exclusivo. Eu quero conversar com mulheres que entendam a minha angústia e a minha escolha por não dar nada além do meu leite até os 6 meses de idade, como recomenda a OMS.
As minhas amigas são ótimas amigas, excelentes companhias. Mas quando se trata de criar filhos, geralmente, o pensamento é bem diferente (até porque muitas delas ainda nem tem os seus próprios filhos tb) e é legal a gente encontrar um grupo pra se apoiar, um grupo que pense como a gente e que nos ajude a refletir seguindo a linha de raciocínio que escolhemos adotar.

Por isso, a minha dica para você que está grávida, que pensa em ter filhos ou já os tem, é: busque a sua rede. Encontre onde estão as pessoas que vão poder te dar apoio, principalmente emocional, durante o puerpério. É um período que exige muito de nós, em que a gente tem que se entregar para uma pessoinha tão pequena, e essa entrega fica MUITO mais fácil quando temos apoio e quando sabemos o que está acontecendo, e principalmente, quando encontramos pessoas que entoem com a gente o mantra: "vai passar".