quarta-feira, 13 de junho de 2012

Marcha do Parto em Casa

Nos dias 16 e 17 de junho, mulheres ocuparão as ruas de várias cidades brasileiras em defesa dos seus direitos sexuais e reprodutivos, entre eles a escolha pelo local de parto. 

No último domingo, dia 10 de junho, o Fantástico veiculou matéria sobre o parto domiciliar, o que causou bastante repercussão. O médico-obstetra e professor da UNIFESP, Jorge Kuhn, foi entrevistado e defendeu o domicílio como um local seguro para o nascimento de bebês de mulheres saudáveis com gravidezes de
baixo risco, segundo preconiza a própria Organização Mundial de Saúde.

No dia 11/06, dia seguinte à matéria, o CREMERJ publicou nota divulgando que fará denúncia ao CREMESP para punir o médico-obstetra Jorge Kuhn por ter se posicionado favorável ao parto domiciliar nas condições acima detalhadas.

O estudo mais recente publicado no British Journal of Obstetrics and Gynecology (2009) analisou a morbimortalidade perinatal em uma impressionante coorte de 529.688 partos domiciliares ou hospitalares planejados em gestantes de baixo-risco: Perinatal mortality and morbidity in a nationwide cohort of 529,688 low-risk planned home and hospital births. [http://www3.interscience.wiley.com/journal/122323202/abstract?CRETRY=1&SRETRY=0]. Nesse estudo, mais de 300.000 mulheres planejaram dar à luz em casa enquanto pouco mais de 160.000 tinham a intenção de dar à luz em hospital. Não houve diferenças significativas entre partos domiciliares e hospitalares planejados em relação ao risco de morte intraparto (0,69% VS. 1,37%), morte neonatal precoce (0,78% vs. 1,27% e admissão em unidade de cuidados intensivos (0,86% VS. 1,16%). O estudo concluiu que um parto domiciliar planejado não aumenta os riscos de mortalidade perinatal e morbidade perinatal grave entre mulheres de baixo-risco, desde que o sistema de saúde facilite esta opção através da disponibilidade de parteiras treinadas e um bom sistema de referência e transporte.

Em repúdio à decisão arbitrária dos Conselhos de Medicina em punir profissionais que compreendem como sendo da mulher a decisão sobre o local do parto foi idealizada a MARCHA DO PARTO EM CASA. Entre as reivindicações, além da defesa pelo direito à liberdade de escolha, pela humanização do parto e nascimento e pela melhoria das condições da assistência obstétrica e neonatal no país, também está a denúncia às altas taxas de cesarianas que posicionam o Brasil entre os primeiros colocados do ranking mundial.

MARCHA DO PARTO EM CASA

Rio de Janeiro - RJ
Local: Praia de Botafogo, altura do IBOL - Passeata até o CREMERJ (Rua Farani)
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 10h da manhã
Contatos: Ingrid Lotfi (21) 9418-7500

São Paulo - SP
Local: Parque Mário Covas (atrás do Trianon) - Passeata até o CREMESP
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 14h da tarde
Contatos: Ana Cristina Duarte (11) 9806-7090

São José dos Campos - SP
Local: Praça Affonso Pena perto dos brinquedos
Data: 16 de junho, sábado
Horário: 10h da manhã
Contato: Flavia Penido (12) 91249820

Campinas - SP
Local: Praça do Côco /Barão geraldo
Data 17 de junho, domingo
Horário: 14h da tarde
Contato: Ana Paula (19) 97300155

Ribeirão Preto - SP
Local: Esplanada do Teatro Pedro II
Data: 16 de junho, sábado
Horário: 14h da tarde
Contato: Marina B Fernandes (16) 9963-9614

Sorocaba - SP
Local: Parque Campolim
Data 17 de junho, domingo
HOrário: 10h da manhã
Contato: Gisele Leal (15) 8115-9765

Ilhabela - SP
Local: Praça da Mangueira
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 11h da manhã
Contato: Isabella Rusconi (12) 96317701 / Alejandra Soto Payva (12) 91498405

Vitória - ES
Local: Praia de Camburi - Ponto de encontro em frente ao Banco do Brasil
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 9h da manhã
Contatos: Graziele Rodrigues Duda 8808-8184

Brasília - DF
Local: próximo ao quiosque do atleta, no Parque da Cidade - Passeata até o eixão
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 09h30h da manhã
Contatos: Clarissa Kahn (61) 8139-0099 e Deborah Trevisan (61) 8217-6090

Belo Horizonte - MG
Local: Concentração na Igrejinha da Lagoa da Pampulha
Data: 16 de junho, sábado
Horário: 12h30 da tarde
Contato: Polly (31) 9312-7399 e Kalu (31) 8749-2500

Recife - PE
Local: Conselheiro Portela, 203 - Espinheiro - Em frente ao CREMEPE
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 15h da tarde
Contatos: Paty Brandão (81) 8838 5354 \ 9664 7831, Patricia Sampaio Carvalho

Fortaleza - CE
Local: Aterro da Praia de Iracema
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 17h da tarde
Contato: Semírades Ávila

Salvador - BA
Local: Cristo da Barra até o Farol
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 11hrs da manhã
Contato: Daniela Leal (71) 9205-9458, Anne Sobotta (71) 8231-4135 e Chenia d'Anunciação (71) 8814-3903 / 9977-4066

Curitiba - PR
LOcal: Rua Luiz Xavier - Centro - Boca Maldita
Data: 16 de junho, sábado
Horário: 11 hrs da manhã
Contatos: Inês Baylão (41) 9102-7587

Florianópolis - SC
Local: Lagoa da Conceição - concentração na praça da Lagoa, onde acontece a feira de artesanatos
Data: 17 de Junho, domingo
Horário: 15h
Contatos: Ligia Moreiras Sena (48) 9162-4514 e Raphaela Rezende (raphaela.rnogueira@gmail.com)

Porto Alegre - RS
Local: Parque Farroupilha (Redenção), Concentração no Monumento ao Expedicionário
Data: 17 de junho, domingo
Horário: 15:00hrs
Contatos: Maria José Goulart (51) 9123-6136 / (51) 3013-1344

APOIO:
PARTO DO PRINCÍPIO - MULHERES EM REDE PELA MATERNIDADE ATIVA

Aqui a matéria sobre a retaliação do CREMERJ:
http://www.jb.com.br/rio/noticias/2012/06/11/cremerj-abrira-denuncia-contra-medico-que-defende-parto-domiciliar/

Aqui está a matéria veiculada no Fantástico:
http://globotv.globo.com/rede-globo/fantastico/t/edicoes/v/parto-humanizado-domiciliar-causa-polemica-entre-profissionais-da-area-de-saude/1986583/

Em defesa das mulheres que escolhem o parto domiciliar, em repúdio ao Cremerj


Em defesa das mulheres que escolhem o parto domiciliar, em repúdio ao Cremerj

Nossa militância não defende que todas as mulheres devem ser obrigadas a ter parto normal – apesar de ser estatisticamente mais seguro para mulheres e bebês. Acreditamos que as mulheres devem ter acesso a informações sobre partos a partir de fontes seguras, informações baseadas em evidências e em literatura médica atualizada. Assim, cada mulher – em conjunto com a equipe de assistência em saúde - pode escolher a forma adequada de parir seu bebê, de acordo com suas condições fisiológicas, emocionais, familiares, etc.
Ao invés de convencer todas as mulheres a passar por um parto normal, queremos que o sistema de saúde do Brasil mude a assistência ao parto normal, que atualmente é extremamente violento para as mulheres. A forma como o parto é conduzido nos hospitais do Brasil é focada no que é mais fácil e rápido para a equipe de saúde, e não nas especificidades e necessidades físicas e emocionais de cada mulher, bebê e famílias.
Nós mulheres queremos partos sem ocitocina de rotina (hormônio aplicado com o “sorinho”, e que serve acelerar o trabalho de parto, aumentando a intensidade das contrações e, por consequência, aumentando as dores).
Nós mulheres queremos partos sem episiotomia em nossas vaginas (o corte feito no períneo para acelerar a passagem do bebê pode ser necessário em menos de 20% dos partos, mas os médicos brasileiros fazem este corte em 80% das mulheres em parto normal).
As mulheres brasileiras querem partos sem manobra de Kristeller (apertar a barriga da mulher para baixo), procedimento condenado pela literatura médica desde a década de 1980, mas que continua sendo aplicado nos hospitais brasileiros.
Queremos poder escolher posturas mais confortáveis para parir que não a litotomia (estar deitada na cama força mais o músculo do períneo). Queremos poder nos alimentar e beber durante o trabalho de parto – o que a rotina médica costuma impedir durante o trabalho de parto que pode durar mais de 10 horas. Além destas, há muitas outras intervenções desnecessárias e realizadas como rotina na assistência ao parto.
Sonhamos e lutamos por um sistema de saúde onde o parto normal seja realizado de forma humanizada – ou seja, que cada parto seja feito de acordo com o corpo de cada mulher. Infelizmente o panorama do sistema obstétrico do país vem caminhando no sentido da “industrialização” dos partos: todos seguem uma rotina médica que não respeita a fisiologia de cada corpo humano.
Se a classe médica se preocupa com a saúde e integridade do corpo das mulheres e dos bebês, deveria se preocupar em promover atualização dos obstetras brasileiros, e denunciar os profissionais que não praticam as normas da Organização Mundial da Saúde para a assistência ao parto.
Deveria, inclusive, denunciar os profissionais que praticam cesáreas agendadas por conveniência, expondo mulheres e bebês a riscos desnecessários, e sem que a gestante e seus familiares tenham sequer conhecimento de que esta é uma cirurgia considerada de grande porte.
Ao invés disso, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) planeja uma denúncia contra o médico Jorge Francisco Kuhn, por este ter se manifestado em defesa do parto domiciliar em programa de TV em rede nacional.
Repudiamos essa atitude do Cremerj, que vem sistematicamente tentando intimidar os profissionais que caminham na direção das necessidades que nós, mulheres, apresentamos.
A classe médica deve lembrar que somos donas de nossos úteros, de nossos corpos. E por isso temos o direito de escolher a melhor forma de parir nossos filhos.
Além de úteros, temos cérebro. Somos providas de capacidade cognitiva para estudar, pesquisar e conhecer o processo do parto a partir de pesquisas científicas, de evidências médicas. Também conhecemos o parto a partir da experiência pessoal que somente nós, mulheres, podemos ter. Ou seja, ao contrário do que julgam os detentores do saber médico, somos capazes de tomar decisões com base em conhecimento, e quando uma mulher escolhe o parto domiciliar não está fazendo por “capricho”, mas por ter esta necessidade emocional, por ter conhecimento suficiente para esta escolha, por ter confiança no seu corpo e nas pessoas que vão lhe assistir neste momento.
Ressaltamos que não queremos que todas as mulheres sejam obrigadas a ter parto normal, seja nos hospitais, nas casas de parto, ou em casa. Mas, exigimos que a sociedade brasileira e a classe médica respeitem a vontade e a capacidade de discernimento das mulheres que escolhem o parto domiciliar. E que essas mulheres tenham o direito de contar com uma equipe de profissionais capacitados para oferecer assistência adequada.
Por tudo isso, nós, mulheres brasileiras militantes do parto humanizado, viemos a público manifestar repúdio contra o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj).

terça-feira, 12 de junho de 2012

Em defesa do direito a escolha


CARTA ABERTA À SOCIEDADE

Nós, médicos humanistas, enfermeiras-obstetras e obstetrizes, todos os profissionais, entidades civis, movimentos sociais e usuárias envolvidos com a Humanização da Assistência ao Parto e Nascimento no Brasil, vimos através desta presente Carta manifestar o nosso repúdio à arbitrária decisão do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (CREMERJ) de encaminhar denúncia contra o médico e professor da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) Jorge Kuhn, por ter se pronunciado favoravelmente em relação ao parto domiciliar em recente reportagem divulgada pelo Programa Fantástico, da TV Globo.

Acreditamos estar vivenciando um momento em que nós todos, que atendemos partos dentro de um paradigma centrado na pessoa e com embasamento científico, estamos provocando a reação violenta dos setores mais conservadores da Medicina. Pior: uma parcela da corporação médica está mostrando sua face mais autoritária e violenta, ao atacar um dos direitos mais fundamentais do cidadão: o direito de livre expressão. Nem nos momentos mais sombrios da ditadura militar tivemos exemplos tão claros do cerceamento à liberdade como nesse episódio. Médicos (como no recente caso no Espírito Santo) podem ir aos jornais bradar abertamente sua escolha pela cesariana, cirurgia da qual nos envergonhamos de ser os campeões mundiais e que comprovadamente produz malefícios para o binômio mãebebê em curto, médio e longo prazo. No entanto, não há nenhuma palavra de censura contra médicos que ESCOLHEM colocar suas pacientes em risco deliberado através de uma grande cirurgia desprovida de justificativas clínicas. Bastou, porém, que um médico de reconhecida qualidade profissional se manifestasse sobre um procedimento que a Medicina Baseada em Evidências COMPROVA ser seguro para que o lado mais sombrio da corporação médica se evidenciasse.

Não é possível admitir o arbítrio e calar-se diante de tamanha ofensa ao direito individual. Não é admissível que uma corporação persiga profissionais por se manifestarem abertamente sobre um procedimento que é realizado no mundo inteiro e com resultados excelentes. A sociedade civil precisa reagir contra os interesses obscuros que motivam tais iniciativas. Calar a boca das mulheres, impedindo que elas escolham o lugar onde terão seus filhos é uma atitude inaceitável e fere os princípios básicos de autonomia.

Neste momento em que o Brasil ultrapassa inaceitáveis 50% de cesarianas, sendo mais de 80% no setor privado, em que a violência institucional leva à agressão de mais de 25% das mulheres durante o parto, em vez de se posicionar veementemente contrários a essas taxas absurdas, conselhos e sociedades continuam fingindo que as ignoram, ou pior, as acobertam e defendem esse modelo violento e autoritário que resulta no chamado "Paradoxo Perinatal Brasileiro". O uso abusivo da tecnologia contrasta com taxas gritantemente elevadas de mortalidade materna e perinatal, isso em um País onde 98% dos partos são hospitalares!

Escolher o local de parto é um DIREITO humano reprodutivo e sexual, defendido pelas grandes democracias do planeta. Agredir os médicos que se posicionam a favor da liberdade de escolha é violar os mais sagrados preceitos do estado de direito e da democracia. Ao invés de atacar e agredir, os conselhos de medicina deveriam estar ao lado dos profissionais que defendem essa liberdade, vez que é função da boa Medicina o estímulo a uma "saúde social", onde a democracia e a liberdade sejam os únicos padrões aceitáveis de bem estar.

Não podemos nos omitir e nos tornar cúmplices dessa situação. É hora de rever conceitos, de reagir contra o cerceamento e a perseguição que vêm sofrendo os profissionais humanistas. Se o CREMERJ insiste em manter essa postura autoritária e persecutória, esperamos que pelo menos o Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CREMESP) possa responder com dignidade, resgatando sua função maior, que é o compromisso com a saúde da população.

Não admitimos, não permitiremos que o nosso colega Jorge Kuhn seja constrangido, ameaçado ou punido. Ao mesmo tempo em que redigimos esta Carta aberta, aproveitamos para encaminhar ao CREMERJ, ao CREMESP e ao Conselho Federal de Medicina (CFM) nossa Petição Pública em prol de um debate cientificamente fundamentado sobre o local do parto. Esse manifesto, assinado por milhares de pessoas, dentre os quais médicos e professores de renome nacional e internacional, deve ser levado ao conhecimento dos senhores Conselheiros e da sociedade. Todos têm o direito de conhecer quais evidências apoiariam as escolhas do parto domiciliar ou as afirmações de que esse é arriscado – se é que as há.

http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=petparto

(Por Melania Amorim)