quarta-feira, 13 de junho de 2012

Em defesa das mulheres que escolhem o parto domiciliar, em repúdio ao Cremerj


Em defesa das mulheres que escolhem o parto domiciliar, em repúdio ao Cremerj

Nossa militância não defende que todas as mulheres devem ser obrigadas a ter parto normal – apesar de ser estatisticamente mais seguro para mulheres e bebês. Acreditamos que as mulheres devem ter acesso a informações sobre partos a partir de fontes seguras, informações baseadas em evidências e em literatura médica atualizada. Assim, cada mulher – em conjunto com a equipe de assistência em saúde - pode escolher a forma adequada de parir seu bebê, de acordo com suas condições fisiológicas, emocionais, familiares, etc.
Ao invés de convencer todas as mulheres a passar por um parto normal, queremos que o sistema de saúde do Brasil mude a assistência ao parto normal, que atualmente é extremamente violento para as mulheres. A forma como o parto é conduzido nos hospitais do Brasil é focada no que é mais fácil e rápido para a equipe de saúde, e não nas especificidades e necessidades físicas e emocionais de cada mulher, bebê e famílias.
Nós mulheres queremos partos sem ocitocina de rotina (hormônio aplicado com o “sorinho”, e que serve acelerar o trabalho de parto, aumentando a intensidade das contrações e, por consequência, aumentando as dores).
Nós mulheres queremos partos sem episiotomia em nossas vaginas (o corte feito no períneo para acelerar a passagem do bebê pode ser necessário em menos de 20% dos partos, mas os médicos brasileiros fazem este corte em 80% das mulheres em parto normal).
As mulheres brasileiras querem partos sem manobra de Kristeller (apertar a barriga da mulher para baixo), procedimento condenado pela literatura médica desde a década de 1980, mas que continua sendo aplicado nos hospitais brasileiros.
Queremos poder escolher posturas mais confortáveis para parir que não a litotomia (estar deitada na cama força mais o músculo do períneo). Queremos poder nos alimentar e beber durante o trabalho de parto – o que a rotina médica costuma impedir durante o trabalho de parto que pode durar mais de 10 horas. Além destas, há muitas outras intervenções desnecessárias e realizadas como rotina na assistência ao parto.
Sonhamos e lutamos por um sistema de saúde onde o parto normal seja realizado de forma humanizada – ou seja, que cada parto seja feito de acordo com o corpo de cada mulher. Infelizmente o panorama do sistema obstétrico do país vem caminhando no sentido da “industrialização” dos partos: todos seguem uma rotina médica que não respeita a fisiologia de cada corpo humano.
Se a classe médica se preocupa com a saúde e integridade do corpo das mulheres e dos bebês, deveria se preocupar em promover atualização dos obstetras brasileiros, e denunciar os profissionais que não praticam as normas da Organização Mundial da Saúde para a assistência ao parto.
Deveria, inclusive, denunciar os profissionais que praticam cesáreas agendadas por conveniência, expondo mulheres e bebês a riscos desnecessários, e sem que a gestante e seus familiares tenham sequer conhecimento de que esta é uma cirurgia considerada de grande porte.
Ao invés disso, o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj) planeja uma denúncia contra o médico Jorge Francisco Kuhn, por este ter se manifestado em defesa do parto domiciliar em programa de TV em rede nacional.
Repudiamos essa atitude do Cremerj, que vem sistematicamente tentando intimidar os profissionais que caminham na direção das necessidades que nós, mulheres, apresentamos.
A classe médica deve lembrar que somos donas de nossos úteros, de nossos corpos. E por isso temos o direito de escolher a melhor forma de parir nossos filhos.
Além de úteros, temos cérebro. Somos providas de capacidade cognitiva para estudar, pesquisar e conhecer o processo do parto a partir de pesquisas científicas, de evidências médicas. Também conhecemos o parto a partir da experiência pessoal que somente nós, mulheres, podemos ter. Ou seja, ao contrário do que julgam os detentores do saber médico, somos capazes de tomar decisões com base em conhecimento, e quando uma mulher escolhe o parto domiciliar não está fazendo por “capricho”, mas por ter esta necessidade emocional, por ter conhecimento suficiente para esta escolha, por ter confiança no seu corpo e nas pessoas que vão lhe assistir neste momento.
Ressaltamos que não queremos que todas as mulheres sejam obrigadas a ter parto normal, seja nos hospitais, nas casas de parto, ou em casa. Mas, exigimos que a sociedade brasileira e a classe médica respeitem a vontade e a capacidade de discernimento das mulheres que escolhem o parto domiciliar. E que essas mulheres tenham o direito de contar com uma equipe de profissionais capacitados para oferecer assistência adequada.
Por tudo isso, nós, mulheres brasileiras militantes do parto humanizado, viemos a público manifestar repúdio contra o Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj).

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